O lugar do teu corpo
"Não há gueixa nenhuma que queira cá vir", diz a criada, que entra no quarto contrariada.
"Porquê?", pergunta-lhe Sabe Ada.
"Por causa da vossa reputação."
"O que dizes? O que dizem de nós?"
"Que são uns depravados!"
"Repete lá! Depravados, porquê?"
"Porque não pára de o chupar."
"Não é normal que uma mulher ame o sexo do homem que ama?"
"Porquê?", pergunta-lhe Sabe Ada.
"Por causa da vossa reputação."
"O que dizes? O que dizem de nós?"
"Que são uns depravados!"
"Repete lá! Depravados, porquê?"
"Porque não pára de o chupar."
"Não é normal que uma mulher ame o sexo do homem que ama?"
O mundo de Sada Abe e de Kichizo Ishida constrói-se e consome-se num amor que se encerra dentro do seu incomensurável desejo e está-se nas tintas para convencionalismos e exigências sociais. É indecoroso, mal-educado, desafiante; tudo aquilo que a sociedade japonesa abomina. E, ao mesmo tempo, é um mundo feminista que emerge de uma sociedade misógina. Sada domina a relação; Kichizo vai perdendo protagonismo - de habitual sedutor, transforma-se aos poucos em objecto sexual que (sobre)vive para satisfazer os desejos cada vez mais exigentes dela. A cor escapa-se-lhe do rosto até ser quase tão branco como o das gueixas. A voz diminui de intensidade até ser apenas o sussurro de um corpo esgotado. Sada é a viúva negra sugando a vida do amante através do desejo insaciável do seu corpo. Sada é a revolução de costumes no corpo de uma ninfomaníaca. Subversivo.