A importância de um bom ator
Da série televisiva Roma
Tenho estado a ver mais uma excelente série da HBO e ocorre-me comentar um ou outro ponto da arte de fazer cinema.
Se tivesse de escolher entre viver muito frugalmente ou assistir a bons espetáculos e manter-me ligada ao prazer da arte, escolheria o segundo. A conceção de um filho é maravilhosa, mas não é uma criação humana, senão da natureza. A arte é a única criação do homem que resultou maravilhosa e que tem assento garantido nesse panteão de divindade: o maravilhoso. O homem assemelha-se a uma ideia de Deus.
Quem realmente gosta de arte já experimentou o estado de encantamento místico perante um texto, um quadro da pintura, uma música, um filme. Eu diria que existe mesmo um atordoamento.
Mas um filme não é uma obra individual, e tudo se complica quando temos de trabalhar coletivamente, porque somos tendencialmente egoístas, agressivos, preguiçosos. Contudo, vá-se lá saber como, o cinema faz-se e resulta. Deve muito a todos os técnicos nele envolvidos, mas deve sobremaneira aos atores. Ontem vi uma cena da série Roma, entre dois velhos amigos falando sobre trivialidades: a família, a vida. E o que me maravilhou foi a capacidade de transformar uma conversa de amigos na própria amizade. Não estavam ali apenas dois atores a interpretar a amizade, porque a amizade era aquilo, estava ali, eu podia cheirá-la. Sim, havia o texto e a câmara e a luz e o som e a fotografia e o guarda-roupa e o diabo a sete, mas havia, sobretudo, desculpem-me, mas não abdico disto, dois atores tremendos capazes de corporizar um sentimento raro e oferecê-lo ao exterior. Maravilhei-me.
O cinema precisa destes atores tremendos.
O cinema precisa destes atores tremendos.