Uma terra que não existe
Uma moçambicana da minha idade, que veio do Maputo em 2000, e também viveu na Matola, alimentou comigo conversa sobre os lugares onde morámos. Esteve a explicar-me que há uma autoestrada que liga a cidade à fronteira para a África do Sul, e que é preciso apanhá-la para ir para qualquer localidade nessa direção, portanto Matola, Namaacha, o resto. Perguntei se a antiga estrada da Matola, a que tenho na minha memória, ainda existe. Não, respondeu. Nem a Matola é o que era. Já não há mato de um lado e do outro da estrada, mas vivendas, fábricas, empreendimentos, condomínios. As ruas traçadas na zona nova já pouco são de terra batida. Tentei explicar onde ficava a minha casa, mas à exceção de poucas referências, como a escola preparatória, a igreja, pouco entendimento conseguimos. Ela recorda a Matola de quando lá saiu e não a de 1975, quando eu saí.
Chegada a casa, inconformada, fui ao Google Maps para uma busca de horas, totalmente infrutífera. Não consigo localizar a igreja onde fiz a primeira comunhão, a cantina onde ia buscar as compras à minha mãe, nada. Queria ver a fachada da casa que o meu pai construiu e onde vivi, se ainda existir, mas não posso. É como se todos os percursos que guardo na cabeça tivessem sido varridos por uma bomba atómica. Precisaria que repusessem a estrada antiga para a localizar. Precisaria que estivesse tudo mais ou menos igual, porque na minha cabeça vejo claramente cada pormenor dos 13 quilómetros que ligavam Maputo à casa da Matola, e tenho a certeza que lá chegaria. Guardei este percurso para lá poder voltar um dia. Enganei-me. Na minha cabeça, o cenário passado que se encontra guardado como num cofre, já não existe. O que recordo, morreu. Não posso voltar.
Chegada a casa, inconformada, fui ao Google Maps para uma busca de horas, totalmente infrutífera. Não consigo localizar a igreja onde fiz a primeira comunhão, a cantina onde ia buscar as compras à minha mãe, nada. Queria ver a fachada da casa que o meu pai construiu e onde vivi, se ainda existir, mas não posso. É como se todos os percursos que guardo na cabeça tivessem sido varridos por uma bomba atómica. Precisaria que repusessem a estrada antiga para a localizar. Precisaria que estivesse tudo mais ou menos igual, porque na minha cabeça vejo claramente cada pormenor dos 13 quilómetros que ligavam Maputo à casa da Matola, e tenho a certeza que lá chegaria. Guardei este percurso para lá poder voltar um dia. Enganei-me. Na minha cabeça, o cenário passado que se encontra guardado como num cofre, já não existe. O que recordo, morreu. Não posso voltar.