Ainda falta

Em Almada há um talho de carne de cavalo junto ao mercado velho. Há uns anos a minha mãe convenceu-me a comer uns bifes do dito animal. Não me neguei. A carne era mais escura, mais dura, mas tragava-se bem, e era mais barata. Só lhe perguntei de onde vinham os animais e porque os abatiam. Isso fez-me espécie, mas a minha mãe sossegou-me, explicando que eram cavalos velhos que tinham mesmo de ser abatidos e eu engoli a patranha. Repare-se, eu gosto muito de cavalos, mas também gosto de vacas, bezerros, cabras, coelhos e por aí fora. Recentemente, alguém me explicou que a maior parte dos cavalos usados em corridas ficam num estado tal que têm de ser abatidos. É possível que a carne de cavalo que andamos a comer venha dessa fonte. 
Sendo assim, comer carne de cavalo só se torna um problema, na medida em que comer carne o é. O drama é olhamos para cavalos, vacas e porcos como objetos de consumo, como carne, alimento. Lá na outra civilização, de onde vim, numa outra galáxia, a milhares de anos luz, não comíamos animais. Comíamos bananas, tomates e feijões e ficávamos bem. Os restantes animais partilhavam connosco o planeta, vivendo no seu ecossistema e na justiça da sua lei. Aqui na Terra estamos no tempo das cavernas com sofá, plasma e internet. Ainda falta, portanto.

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