O amor perdido
Perder um amor ou a pessoa desse
amor ou ambos mereceria alteração radical do curso de vida. Mudaríamos de
cidade, de casa, de móveis, objetos e roupa. Se consumíssemos café Delta,
passaríamos para o Sical. Que nada nos evocasse o que se perdeu ao perder,
porque pior que a dor da memória é a estranheza de se mergulhar num passado
ainda erguido, sólido, tocável sem poder atingir-se. O amor perdido mantém-se
sensível desde o primeiro oxigénio, mas tão inacessível como a personagem de um
romance. Amo Jane Eyre. Conheço-a tão bem que poderia falar em seu nome, mas não está ao meu alcance encontrá-la nem abraçá-la. O amor perdido é a nossa Jane Eyre.