A minha casa

Disse à médica, "doutora, há sempre um vazio". Não lhe disse "uma dor". Tive vergonha. Disse "um vazio, um síndroma depressivo subjacente".
Respondeu-me que tenho de arranjar entretém: ir ao cinema, ter algo para fazer que me ocupe o tempo; e que tinha de aprender a gostar de mim.
Disse que sim, que fazia coisas, que me entretinha, mas que sim tudo o que quisesse, e passou-me o Xanax, porque alguém tem de dormir.
Tenho dias em que me ponho a escrever logo que posso, como quem pega num analgésico e o enfia garganta abaixo. Quero só que pare de me doer, e às vezes alivia. 
Tenho dias em que preciso de parar de escrever para não doer mais. Nesses momentos sinto-me cercada de mim por todos os lados, e procuro portas sem alívio algum.
A minha casa é demasiado fria e o aquecimento é muito caro. 
A minha casa também é demasiado grande e vazia, mas isso não é totalmente mau, porque a cadela tem muitos cantos por onde mijar.
Às vezes tenho a sorte de os dias passarem depressa.

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