Os olhos dos meus cães
Eu não tive cães, fui visitada por Deus.
Nem a minha cadela nem Deus têm o nome que lhes chamo.
Nos olhos da minha cadela, lá dentro, existe uma pessoa que não é ela nem eu, mas um nós cheio de força desconhecida.
A minha cadela está mais perto de Deus, desconhecendo a fé, do que eu alguma vez alcançarei, mesmo se me ocorresse fugir à mundanidade para dedicar à oração todas as horas em que não dormisse.
Quando a Nina mija à entrada da porta, e me irrito justamente, chamando-lhe, "porca, disfuncional", repetindo-o, ruminando, enquanto manejo o balde e a esfregona, chamo porco e disfuncional a Deus. É abusar de mim. Gozar com a minha cara.
Não tenho medo nenhum de Deus. É como dos cães. Acho que se ri comigo, que lê através dos meus olhos as palavras que escrevo.
Os olhos dos meus cães sempre tiveram essa pessoa lá dentro.