O traje dos sábios
No centro comercial mais perto da minha casa abriu uma loja
de trajes académicos, onde antes existia uma sapataria. Os sapatos não davam
lucro. Os trajes académicos estão em alta.
Nunca tive traje académico nem pasta de finalista nem fui à bênção
das fitas, porque também não as comprei, e o que pensava aos 20 anos sobre o assunto
mantém-se fresco: o hábito não faz o homem nem a mulher. O hábito identifica,
classifica, integra e muitas vezes mascara. Não preciso.
Foto de @Vítor Cid |
Aos jovens que se preparam para comprar trajes académicos, e
aos meus ex-alunos que os usam, tenho a lembrar que os verdadeiros sábios não
precisam de sinais exteriores que os destaquem da multidão. Não precisam de o mostrar
nem de se afirmar. Eles são. Ser alguma coisa é um estado íntimo
que não pode ser retirado. A aparência que confere um traje académico ou outro
qualquer pode mudar, mas ser-se sábio, válido, preciosamente capacitado para isto ou aquilo é um estado que não muda nem grita. Os que são realmente sábios estão vestidos para sempre com um manto que nem os seus próprios olhos conhecem, e passam em silêncio para que a multidão
não repare que passou alguém.